A afirmação de Jemerson no Galo
HÁ CERCA DE UM ANO, ascendia o jovem zagueiro Jemerson na defesa do Atlético Mineiro. Naquele momento, a aparição do beque era uma grande novidade, visto que suas oportunidades foram ganhas em caráter emergencial, devido à falta de alternativas, e rapidamente o jovem se consolidou como titular, ao lado do experiente Leonardo Silva.

Foto: Bruno Cantini
Nesta ocasião, não é a surpreendente revelação do atleticano que recebe o foco, mas a forma com a qual o jogador se afirmou, conquistando um lugar no rol dos melhores de sua posição e ganhando seu primeiro chamado à Seleção Canarinho. Em menos de um ano e meio, Jemerson deixou de ser um atleta que sequer figurava na reserva e chegou a um dos postos mais desejados do mundo do futebol – mesmo com o descrédito notório do escrete verde-amarelo.
Demonstrando sua habitual calma, que em muitas ocasiões deixa atônitos aqueles que acompanham de perto seu futebol, o jogador mostrou grande emoção e humildade ao falar sobre o chamado de Dunga para substituir David Luiz, expulso contra a Argentina em partida das eliminatórias:
“Na hora, não acreditei. Achei que era trote, fiquei sem chão. Liguei para o meu empresário para tentar confirmar, mas ele não atendia o telefone. Aos poucos a ficha foi caindo. É uma emoção inexplicável. É minha primeira vez na Seleção, aos poucos vou me acostumando. Nunca vi tanta câmera na minha frente. Eu imaginava ser convocado, mas não tão de repente, como foi. No futebol, as coisas acontecem muito rápido”, falou aos jornalistas em seu primeiro treino com a Seleção.
Sim, Jemerson, no futebol as coisas acontecem muito rápido, mas, em grande parte das vezes, “as coisas” derivam de muito suor, disposição e, consequentemente, do bom desempenho. O zagueiro alvinegro vem mostrando uma solidez impressionante no miolo de zaga. Apesar de o time não estar vivendo um momento defensivo tão forte, sobretudo em decorrência de algumas falhas na prática da marcação alta imposta pelo treinador Levir Culpi, os números do atleta têm chamado a atenção.
No Brasileirão deste ano, segundo o site Footstats, em 31 jogos, Jemerson efetuou consideráveis 57 desarmes, cometeu apenas 36 faltas (média de 1,16 por jogo), foi penalizado com 7 cartões amarelos, tem o absurdo aproveitamento de 97% de passes completados, com 1209 tentados e 1178 completados, e ainda marcou quatro gols. Não há dúvidas de que o jogador vive grande fase.

Foto: Reprodução
No entanto, uma estatística ainda precisa ser melhorada pelo defensor. Dada a confiança em seu futebol, algumas vezes Jemerson se arrisca mais que o necessário, tendo um número relativamente alto de bolas perdidas (54, média de 1,74 por jogo). Considerando que o jogador atua na primeira linha da equipe, um erro por ali pode ser fatal – nada que não possa ser melhorado.
Admirador do futebol do zagueiro Juan, um dos ícones da Seleção Brasileira na última década, o jogador de 23 anos tem ainda um grande terreno para crescimento profissional. Seu futebol vem sendo observado por clubes europeus e já foi noticiado suposto interesse de Udinese, Lyon e, até mesmo, Real Madrid. Seu contrato com o Galo foi renovado recentemente e vige até 2019 — a multa rescisória para transferências para o exterior gira em torno de €30 milhões.
Victor, ídolo atleticano e uma das maiores referências do elenco, previu dias antes do chamado de Jemerson para substituir David Luiz que o defensor eventualmente ganharia espaço na Seleção Brasileira.
“É um jogador que, apesar de jovem, demonstra muita personalidade, muita segurança dentro de campo. Hoje tem a titularidade incontestável por tudo que vem fazendo. Para mim, é um dos principais zagueiros do futebol brasileiro, tem tudo para ser um jogador de Seleção. Se continuar neste nível, a Seleção é inevitável pelo que ele vem rendendo”, disse o goleiro.
Paciente e tranquilo, o atleta conquistou seu espaço no Galo, transformou-se em um dos melhores de sua posição atuando no Brasil e conseguiu seu primeiro chamado para representar o país. Em um ano e meio, sua carreira mudou da água para o vinho; deixou para trás o ostracismo e a dúvida e confirmou-se uma realidade.
Diferentemente do que é padrão no Brasil, Jemerson recebeu suas primeiras oportunidades reais com 21 para 22 anos, idade incomum para o lançamento de um jogador, afirmando-se como um bom exemplo de que as chances podem ser poucas, mas existem, cabendo ao receptor manter-se motivado e preparado para agarrá-las.