O Futebólogo recomenda: Gol da Alemanha
O QUE SE PODE ESPERAR DE UM LIVRO que retrata experiências intercaladas de um jornalista esportivo catalão e um professor de alemão com formação em teatro e filologia? No mínimo, algo “fora da caixa”. Some-se a isso o propósito da obra: desvendar as raízes de uma flagrante evolução do futebol alemão, percebida sobretudo após o vice-campeonato mundial de 2002.
Pessoas diferentes, interesses comuns
Com prefácio de Gerd Wenzel, Axel Torres e André Schön imergem à sólida e sempre estruturada história do futebol germânico. A princípio, o periodista hispânico queria se tornar capaz de entender o que diziam os peculiares jornais esportivos alemães e, para isso, fez o óbvio: procurou um professor do idioma que tanto queria entender. Contudo, não sabia que, a despeito de um distanciamento gerado pelas demandas da vida, encontrava em seu mentor também um amante do futebol.
O que faz da Alemanha um sucesso quando o assunto é futebol? Como se deu a evolução desse processo durante décadas? Como jogavam os times que subverteram a lógica e venceram as poderosas seleções de Hungria, no Mundial de 1954, e Holanda, em 1974? E o que dizer do Bayern de Munique tricampeão europeu também nos anos 1970, ou da Mannschaft vencedora da Euro 72? Como e por que esse país chegou a momentos obscuros, como sua participação na Copa do Mundo de 1998 ou, ainda pior, na Euro 2000? O que mudou desde então?
Há muito o que se questionar e, felizmente, não há respostas para tudo. Imagine um esporte como o futebol afirmado em certezas? Seria chato, não?
Como se deu a evolução e as mudanças táticas que marcaram a carreira do icônico Franz Beckenbauer? Como eram os modelos de jogo germânicos do passado? Como estes se refletem em ideias importantes atribuídas a treinadores de indiscutível importância como Ralf Rangnick, Jürgen Klopp, Thomas Tuchel ou Joachin Löw?
O caminho para o 7 a 1
Outra questão fundamental para os autores e que permeia o interior da obra é o papel de Jürgen Klinsmann no processo que culminou do título da Copa do Mundo de 2014. ‘Acho que finalmente entendi tudo em Belo Horizonte: a revolução de Klinsmann consistia, basicamente, em “abrir a cabeça para o que vinha de fora”, nos revela Axel em alguma instância.
Entre viagens, conversas, cervejas, cafés e revisitas a vídeos de partidas de tempos que antecedem o nascimento dos autores, Gol da Alemanha mostra imenso êxito na tarefa de trazer ao leitor uma compreensão ampla do fenômeno futebolístico que acontece na Alemanha: desmistifica questões e traz visões novas sobre fatos tidos como incontroversos. De forma muito particular, Axel e André nos familiarizam com o futebol alemão, explicando um pouco do que Löw revelou após o título mundial:
“Quando caímos na fase de grupos nas Eurocopas de 2000 e 2004, percebemos que não podíamos confiar apenas nas virtudes alemãs. Percebemos que não estávamos produzindo jogadores de bom nível técnico (…) Quando assumimos a seleção com Klinsmann, há dez anos, tínhamos esse objetivo de renovar a estrutura”.
Que estrutura? Gol da Alemanha traz algumas respostas a essa pergunta.