Quando um modesto City goleou no clássico de Manchester
A Premier League parecia já ter dono quando se anunciou a 28ª rodada. Ainda havia chances remotas de título para o Manchester United, mas a verdade é que parecia impossível tomar a liderança do Arsenal. Nove pontos separavam os clubes. Ou seja, ganhar era um imperativo para os comandados de Sir Alex Ferguson. Do outro lado, estava o Manchester City, que, no derby, procurava se afastar das redondezas da zona de rebaixamento. E, bem, como diz o ditado, clássico é clássico — e vice-versa.
Muito antes dos milhões do City
A temporada em questão é a 2003-04. Naquela altura, os Citizens viviam uma época de vacas magérrimas. Apesar de não estarem tão distantes da atualidade, marcada por grandes glórias e movida a dinheiro árabe, aqueles são tempos já imemoráveis. Sob o comando de Kevin Keegan desde a campanha de 2001-02, a pretensão do time era, apenas e tão somente, a sobrevivência na elite do futebol inglês.
O clube havia retornado da segunda divisão justamente no primeiro ano de Keegan e, comandado pelos gols de Nicolas Anelka, até surpreendeu no reencontro com a Premier League, com um nono lugar. O atacante, aos 24 anos, já era visto como um andarilho — tendo defendido as camisas de PSG, Arsenal, Real Madrid e Liverpool antes de chegar ao time mancuniano — mas era a referência técnica do clube.
Arte: O Futebólogo |
Quando se encaminhou a 28ª rodada da PL, o atacante francês estava fora, lesionado. Sua ausência já era motivo suficiente para duvidar das hipóteses do time, mas o retrospecto recente ainda reforçava a impressão de que os Citizens não teriam vez, mesmo que o jogo fosse em seu território.
Sem Anelka, que vinha de uma sequência de três partidas com gols, o City perdeu para Liverpool e Chelsea, empatou com o Birmingham e venceu apenas o Bolton. Para piorar, havia sido pisoteado justamente pelo Manchester United na FA Cup, com um pesado revés por 4 a 2. Ou seja, o duelo pelo Campeonato Inglês colocaria frente a frente um time que lutava pelo título contra outro que brigava para não cair e que ainda não podia contar com seu craque. Moleza, certo?
Seu azar é a minha sorte, United
Acontece que o Manchester United havia sofrido um duro golpe. Mais que isso: um ataque inesperado. O jogo que antecedeu o derby foi de Liga dos Campeões. O time havia perdido em Portugal para o Porto, treinado por José Mourinho, por 2 a 1 na partida de ida das oitavas de finais. Entretanto, no encontro decisivo, a sorte acompanhou os Red Devils durante a maior parte da disputa.
Paul Scholes abrira a contagem aos 32 minutos da etapa inicial, o que dava aos ingleses a vaga na fase seguinte, em função do critério de desempate do gol marcado fora de casa. Eles não contavam, contudo, com um gol do volante Costinha — talvez o membro portista de quem menos se esperasse tal façanha — aos 90 minutos. O 1 a 1 escancarou a porta de saída da competição continental para os comandados de Ferguson.
De volta às competições domésticas, o United precisava dar uma rápida resposta. Mesmo porque ainda havia a Premier League em disputa e um título dessa natureza relegaria ao total esquecimento aquela eliminação difícil de engolir. No entanto, o baque causado pelo Porto levou o time a entrar em campo desconcentrado.
Se havia alguém com os meios para entender o que significa bater no Manchester United este era Robbie Fowler, opção de Keegan. Ídolo do Liverpool, o maior rival dos Red Devils, o atacante inglês foi um grande carrasco. Ao final de sua carreira, teve no United sua quarta vítima preferida, tendo anotado nove gols — todos em derbies, por Reds e Citizens. Um deles sairia naquele dia.
Ganhando à inglesa
Sem qualquer vergonha de se utilizar de técnicas pouco vistosas de jogo, o irlandês Richard Dunne, zagueiro do City que atuou pela ala direita naquele dia, cobrou um lateral na área do Manchester United. Mikaël Silvestre falhou, perdeu o cabeceio para Antoine Sibierski e a bola chegou aos pés dele, Fowler. 1 a 0. Eram decorridos apenas três minutos de jogo.
O time visitante acordou. Ameaçou muito, mas não converteu o domínio em gols. Então... Aos 32, em novo lance fortuito, o norte-americano Claudio Reyna cruzou bola despretensiosa para a área dos homens de Ferguson, que falharam outra vez. A redonda acabou chegando até o atacante Jon Macken, que deu uma virada bonita para vencer o arqueiro Tim Howard.
O United reagiu três minutos mais tarde, em jogada de Ryan Giggs que terminou em finalização da entrada da área de Scholes — ao menos para ele aqueles dias vinham sendo proveitosos. 2 a 1.
Mas o City continuou na sua. Tratou de amarrar mais o jogo no intervalo, com a entrada do volante Paul Bosvelt na vaga do meia veterano Steve McManaman, recém-chegado do Real Madrid. Porém, também fortaleceu seu contra-ataque, com o ingresso de Trevor Sinclair no lugar de Reyna. E foi justamente ele que se aproveitou da terrível tarde de Silvestre, que falhou novamente aos 72 minutos: 3 a 1. Keegan acertara.
Antes que as luzes se apagassem e as cortinas se fechassem, Shaun Wright-Phillips ofereceu mais um momento de deleite ao torcedor dos Citizens. Por onde? Pela esquerda, de Silvestre. O ponta recebeu a bola antes do meio-campo, avançou por um flanco desprotegido e se aproximou da área. Após, chamou o zagueiro Wes Brown para dançar e acertou um petardo que Howard nem viu. Caprichosamente, a pelota ainda bateu no travessão antes de balançar as redes.
Naquela noite, nada adiantou ter Giggs, Scholes, Cristiano Ronaldo (que acertou a trave duas vezes) ou Ruud van Nistelrooy. O City foi cirúrgico. Jogou à sua maneira, provocou erros e se aproveitou deles com muita eficiência. Se afastou da zona de rebaixamento e, de quebra, piorou a situação do United na luta pelo título. Aquela foi apenas a terceira derrota dos Red Devils para os Citizens em 17 anos. Eram tempos difíceis, mas o que mais poderia o torcedor da casa pedir naquele dia?
Essa abertura da Premier League foi nostálgica para mim agora. Bons tempos de van Nistelrooy em Manchester
ResponderExcluirAh, e como uma relíquia de vídeo desse só no Daily Motion? Tem outros vídeos de PL lá?
ResponderExcluirTem sim, velho!
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