O título que o Deportivo La Coruña esperou três dias para comemorar

Era o ano de 1995. De um lado estava o Deportivo La Coruña, vice-campeão nacional; do outro, o Valencia. Se os galegos traziam a qualidade de Bebeto, Javier Manjarín e Donato, a esquadra valenciana contava com a experiência de Andoni Zubizarreta e Mazinho — além da juventude de Gaizka Mendieta e o poder de fogo de Predrag Mijatovic e Lubo Penev. O palco foi o estádio Santiago Bernabéu e tudo corria como esperado, até o momento em que foi impossível lutar contra uma força da natureza.

Deportivo La Coruña 1995
Foto: Diario AS

Enquanto foi possível, o encontro teve todas as marcas de uma final de copa nacional entre duas equipes poderosas. Tensa, foi marcada por erros individuais de parte a parte (seja das defesas, intimidadas pelos atacantes rivais, ou pelos próprios artilheiros, indecisos em face das metas adversárias). Prova disso foi gol do Dépor, que inaugurou o placar, anotado por Javier Manjarín. Ele só foi possível porque o defensor Fernando Giner falhou em saída de bola. Nas palavras do periódico catalão Mundo Deportivo, tratou-se de um error garrafal.

Mas a partir da segunda etapa a lógica da partida começou a mudar. Não é que a aflição tenha abandonado o gramado. A questão central é que ela passou a dividir espaço com a água que, incessante, descia dos céus. A despeito da técnica que as duas equipes possuíam, repentinamente a bola no chão deixou de ser um recurso, substituída por uma infinidade de lançamentos longos. 

E foi em outro recurso habitual em partidas chuvosas que os valencianos empataram a contenda. Em cobrança de falta magistral, Mijatovic igualou o marcador. Era aquele o minuto 70 de jogo e as condições do campo já eram, no mínimo, deploráveis. “O Bernabéu se transformou em um pequeno lago [...] À medida que foram passando os minutos, nem o gramado se via”, relatou o jornal supracitado.

Não havia mais o que fazer. Contra a força das pesadas nuvens que pairavam sobre a capital espanhola, não havia outro remédio senão interromper a partida. A força da água era tanta que acabou inundando, também, os vestiários do icônico estádio madrilenho. Aliás, como se não bastasse a chuva, em algum momento, do céu também começaram a cair pedrinhas de granizo. 

Era o minuto 79 quando os responsáveis pela organização da partida e o árbitro decidiram colocar fim àquele suplício. Rapidamente, interromperam o encontro, que foi remarcado para três dias mais tarde. 

Do sábado até a terça-feira o quadro se alterou por completo. O gramado secou, o céu se abriu e o sol surgiu. E bastaram os onze minutos derradeiros para que Manjarín confirmasse o protagonismo daquela final. Se um ano antes o La Coruña deixara escorrer por suas mãos o título espanhol com um empate justamente contra o Valencia na última rodada, agora o desfecho foi outro.

Mundo Deportivo
Foto: Mundo Deportivo
O atacante espanhol recebeu a bola no lado esquerdo de seu ataque, livrou-se de Mendieta e centrou a bola com perfeição, no miolo da defesa do Valencia. A pelota encontrou Alfredo que a matou no peito e a cabeceou — em dividida com Zubizarreta — para garantir o título à equipe galega, o primeiro de grande relevância em sua história. Era decorrido apenas um minuto e meio após o reinício do jogo.

“Vivi esta final com a mesma intensidade que vivi a [da Copa do Mundo] dos Estados Unidos [em 1994]”, revelou Bebeto ao Mundo Deportivo.

Diz-se popularmente que quando algo extraordinário ou inesperado acontece “vai chover”. No caso do êxito do Dépor, a chuva veio antes, anunciando que os esforços e investimento do clube se pagaram e confirmando que aquele momento histórico, que durou até o início do século XXI, jamais seria esquecido na Galícia.

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