Os dias londrinos de Fredrik Ljungberg
A Copa do Mundo de 2018 coleciona histórias inesperadas. Ninguém esperava, por exemplo, que a campeã da última edição, Alemanha, parasse na fase de grupos. Por outro lado, alguns êxitos também tem surpreendido. Sem seu grande astro dos últimos anos, Zlatan Ibrahimovic, a Suécia chegou às quartas de final. Na referida fase, enfrentará a Inglaterra, país que, por 10 anos, foi casa de um sueco especial: Fredrik Ljungberg.
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Chegada e estreia dos sonhos
Ainda eram vividos os primeiros anos de uma gestão que duraria mais de duas décadas. Arsène Wenger havia chegado ao Arsenal em 1996. Dois anos mais tarde, recebeu um jogador que viria a ser um dos pilares de seus dias mais alegres. Aos 21 anos, o atleta que se notabilizaria sobretudo atuando como meia pelo lado direito, chegou ao charmoso estádio Highbury. Ljungberg custou, então, três milhões de libras. Pouco tempo antes, havia também estreado pela seleção sueca.
Não demorou muito para o jogador cair nas graças do técnico e da torcida. Em sua estreia, substituiu Nicolas Anelka, aos 79 minutos. Foi tempo suficiente para marcar o gol de uma vitória impactante. 3 a 0. Contra quem? O rival Manchester United. A sequência acabou sendo dura para o jogador, que não tivera férias, já que o Campeonato Sueco, em que representava o Halmstad, encontrava-se em atividade, quando Freddie chegou a Londres. Foram muitas as lesões.
Apesar disso, nada foi capaz de aplacar seu impacto no futebol praticado pelos Gunners. Até 2007, ano em que se despediu da equipe, disputou 323 jogos, anotando 71 gols. Suas temporadas mais especiais acabaram sendo aquelas que se deram no interregno entre 2001/02 (em que obteve sua melhor marca goleadora, com 12 tentos na Premier League, levando o prêmio de jogador do ano) e 2004/05. Nesses anos, o Arsenal conquistou o título inglês duas vezes e foi o vice em outras duas oportunidades. Sempre com a presença de um jogador peculiar.
Estiloso fora dos campos e comprometido dentro deles
O estilo de jogo de Fredrik não era tão refinado ou vistoso quanto o daqueles que acabaram sendo seus grandes e inesquecíveis companheiros de ataque nos melhores anos do clube — os franceses Robert Pirès e Thierry Henry, além do holandês Dennis Bergkamp. Mas ele possuía qualidades muito especiais. Podia correr por horas. Era um jogador duro na queda, tanto na hora de apanhar dos adversários quanto na de procurar a recuperação da bola. Tratava-se de uma dessas figuras que não desistem nunca.
Fora dos gramados, mostrava-se um tipo reservado, mas um tanto quanto excêntrico. O moicano vermelho, dos primeiros anos, era provocador. As roupas com as quais era flagrado nas ruas tinham reconhecido estilo. Mesmo a careca que assumiu após determinado tempo revelava um lado da personalidade de Ljungberg. Porém, nada disso jamais afetou seu desempenho dentro dos gramados. Todo o foco de sua vida estava ligado às quatro linhas — afinal ele não desistiu de cursar tecnologia da informação e economia, quando completou 18 anos, a troco de nada.
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Certa vez, chegou até mesmo a brincar, em entrevista concedida aos ingleses do Standard, que sequer se permitia fazer sexo antes de uma partida:
“Sinto que garotas me fazem perder a concentração antes de um jogo. Quero seguir sentindo meus pés. Isso meio que não acontece quando você faz sexo antes de um jogo. Eu tentei e meus pés pareciam de concreto quando eu devia chutar a bola. Depois do jogo — bem, é diferente”.
O futebol também foi uma escolha para o jogador, que poderia ter seguido carreira no handebol. Certo é que, peculiaridades extracampo de lado, Ljungberg foi um modelo de atleta. Demonstrou regularmente a ética de trabalho que marca os grandes jogadores. Revelou sempre uma incomum energia, algo que contagiava seus companheiros e o torcedor. Todos sempre tiveram a certeza de que nunca faltou entrega.
Decisivo e confiável
Além de tudo isso, Ljungberg se revelou um jogador um tanto quanto talismânico. Nas três vezes em que venceu a FA Cup (2001/02, 2002/03 e 2004/05), participou diretamente do título. Na primeira final, contra o Chelsea, marcou um gol com a sua marca.
Carregou a bola por uma longa distância, foi desequilibrado, não caiu e arrematou com precisão da entrada da área. No ano seguinte, fez a assistência que permitiu o solitário gol de Pirès, vitimando o Southampton. Por último, em dura final contra o Manchester United que foi para as penalidades, converteu a sua. Ljungberg foi um jogador em que se podia confiar.
Carregou a bola por uma longa distância, foi desequilibrado, não caiu e arrematou com precisão da entrada da área. No ano seguinte, fez a assistência que permitiu o solitário gol de Pirès, vitimando o Southampton. Por último, em dura final contra o Manchester United que foi para as penalidades, converteu a sua. Ljungberg foi um jogador em que se podia confiar.
Pela Suécia, fez 75 jogos e marcou 14 gols. Teve a honra de encerrar seu ciclo portando a braçadeira de capitão. A propósito, com ele em campo, os suecos nunca perderam para a Inglaterra. Foram quatro partidas, uma vitória e três empates (um deles na Copa do Mundo de 2002). Aliás, não parece obra do acaso o fato de que as personalidades de Freddie e de Ibrahimovic nunca bateram. O primeiro era todo esforço e entrega; o segundo, um talento acima de qualquer suspeita, na mesma medida em que um egocêntrico, por excelência.
A despeito de toda a conexão que sentia com o Arsenal, Ljungberg entendeu, em 2007, que sua história por lá havia terminado. Tinha 30 anos quando seguiu os passos de Henry, que deixara o clube. Assinou com o West Ham, clube em que permaneceu uma temporada, sua última em solo inglês. Sua história na Inglaterra, enquanto futebolista, acabou aqui. Sua relação com os Gunners e a Inglaterra, não.
Eternamente gunner
Em 2016, retornou ao Arsenal. Treinou os times sub-15 e 19, antes de rumar para uma aventura na Alemanha, onde foi auxiliar técnico de Andries Jonker, no Wolfsburg.
Com a demissão do comandante dos lobos, retornou aos Gunners, dessa vez para treinar o time sub-23. O carinho do clube e da torcida nunca diminuiu em relação àquele que é um dos símbolos de um dos mais marcantes períodos da história do clube.
Com a demissão do comandante dos lobos, retornou aos Gunners, dessa vez para treinar o time sub-23. O carinho do clube e da torcida nunca diminuiu em relação àquele que é um dos símbolos de um dos mais marcantes períodos da história do clube.
Ele pode até não ser, tecnicamente, o melhor jogador sueco a ter atuado em solo inglês. Não há dúvidas, entretanto, de que sua trajetória é a mais marcante dentre a de seus compatriotas que jogaram na Terra da Rainha. Foram 10 anos intensos e vitoriosos. Nove deles, o torcedor do Arsenal nunca esquecerá.
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