A longa boa fase de Iago Aspas é algo para se aplaudir de pé
Existem jogadores de futebol que parecem ter nascido para defender as cores de um só clube. O que aparenta ser um demérito, na medida em que ao deixar o lar tais atletas vivem queda de rendimento, revela-se uma dádiva para os torcedores do time em foco. O liame existente entre o atacante Iago Aspas e o Celta de Vigo, certamente, enquadra-se nessa hipótese.
Foto: RC Celta |
Galego da cidade de Moaña, na província de Pontevedra e pouco mais de 20km distante de Vigo, Aspas chegou ao Celta ainda menino. Aos oito anos, deu os primeiros passos rumo a um protagonismo impressionante. É claro que ali ainda não se sabia disso, mas seu percurso correu com naturalidade, passando a juventude nas categorias de base celeste, ascendendo ao Celta B e chegando à equipe principal.
Da terceira divisão ao Liverpool
Como profissional, o atual camisa 10 do Celta de Vigo viveu três importantes anos disputando a terceira divisão, pela equipe b de seu clube. Porém, aquele não era um momento positivo para os célticos.
Depois de viver grandes dias, com campanhas históricas no nível nacional e continental, os galegos entraram em uma espiral de desilusão e maus resultados. A crise começou com o rebaixamento à segunda divisão em 2003/04 e parecia não ser ameaçadora com o acesso no ano seguinte e um sexto lugar em 2005/06. Contudo, um novo descenso na campanha vindoura condenou o clube a uma passagem de cinco anos pelo purgatório da segundona.
Aspas só se consolidou jogador de primeiro nível na equipe em 2009/10. Na altura, o Celta ainda não vinha mostrando força suficiente para retornar à disputa de La Liga. A maturação do atacante também não vinha sendo das mais rápidas. Com 22 para 23 anos, já não era um garotinho e não dava sinais de que ganharia um lugar entre os grandes.
Mas o jogo virou em 2011/12. Após uma campanha especial, que culminou com o segundo lugar da segunda división, Vigo voltou a ser representada no mais alto escalão do futebol espanhol. Muito disso, deveu-se às performances de um inspirado Iago Aspas.
Dos 83 gols anotados pelos celestes, 23 foram marcados pelo canhotinho, o vice-artilheiro do certame, atrás apenas de Leonardo Ulloa, à época atacante do Almería. E Aspas não deixou a peteca cair em sua estreia na divisão de elite da Espanha.
Foto: Getty Images |
Viagens frustradas em vermelho
O clube inglês desembolsou pouco mais de £7 milhões pelos préstimos de Aspas, que chegou a Anfield Road empolgado: “quando soube do interesse do Liverpool, não hesitei nem por um minuto”.
Brendan Rodgers ainda era o treinador do clube, que tentava se reestruturar e deixar o ostracismo no qual vinha se afundando nas temporadas mais recentes, distante dos títulos e da disputa da Copa dos Campeões. O atacante espanhol oferecia ao clube uma alternativa; dava mais profundidade ao elenco.
Versátil, apto para jogar como “falso 9”, ponta esquerda, direita ou ainda como segundo atacante, Aspas parecia uma contratação promissora. Não foi. Vestiu a camisa dos Reds apenas 15 vezes e só balançou as redes uma vez. Logo foi emprestado ao Sevilla.
Considerado um flop, teve o movimento de retorno à Espanha visto como uma oportunidade de se relançar no mundo da bola. Porém, não se tornou titular e recuperou muito pouco de seu prestígio em sua passagem pelo Rojiblanco.
Dos 25 jogos que fez na Andaluzia, somente quatro foram completos, vindo do banco em 16 ocasiões e sendo substituído em outras cinco, nas poucas vezes em que foi titular. Problemas físicos também não o ajudaram a viver dias melhores.
Mas, ainda assim, marcou 10 gols. Em especial, seu desempenho na Copa del Rey foi positivo, com dois hat-trick contra o modesto Sabadell. Entretanto, tal desempenho não convenceu o Sevilla a permanecer com o jogador, que viu uma velha porta ser reaberta.
O bom filho a casa torna
Em 2015/16, Aspas voltou para casa. Em seu retorno ao estádio de Balaídos, parecia que o tempo havia parado e nada acontecera nas duas temporadas em que esteve longe do lar.
O restart do atacante foi brilhante. Titular desde o primeiro momento, marcou em seu jogo de reestreia pelo campeonato espanhol e começou a retomar sua carreira. Sob o comando de Eduardo Berizzo, o clube fez uma campanha espetacular (terminou na sexta posição), que projetou o talento de vários jogadores e recolou a carreira de Iago nos trilhos.
Naquele ano, o clube só conheceu sua primeira derrota na nona rodada e para o Real Madrid - sendo válido mencionar que na quinta ronda, os celestes impuseram importante derrota ao Barcelona, 4 a 1, com dois gols de Iago Aspas.
Logo, o clube viu Augusto Fernández, Fabián Orellana e Nolito partirem para novas experiências. Aspas foi reassumindo o protagonismo. Em sua volta, com a camisa 9, fez 18 gols em 42 jogos.
Com a saída de Nolito, a 10 ficou vaga e passou a vestir Iago, a principal referência do Celta, a partir da temporada 2016/17. Nela, fez 26 gols em 54 jogos e, embora o clube tenha ficado apenas na 13ª posição de La Liga, chegou às semifinais da Europa League, eliminado pelo Manchester United.
Um chamado tardio
Foto: Jorge Guerrero/Getty Images |
Em sua estreia, amistoso contra a Inglaterra, fez seu primeiro gol. Desde então, somaram-se mais sete partidas e três tentos, dois contra Liechtenstein e um contra a Argentina - além de cinco assistências.
Na temporada atual, em que o Celta figura na parte de cima da tabela e luta por uma vaga em competições europeias, Aspas tem sido novamente o cara. Em 32 partidas, já marcou 17 vezes. Aos 30 anos, reafirmado em casa, tem ótimas chances de disputar a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Jogos como o empate contra o Real Madrid, têm mostrado a grandeza do futebol e do momento do atacante.
Em casa até o final?
O contrato de Aspas com o Celta vige até o final da temporada 2021/22, ano que é visto com bons olhos pelo jogador como o do final de sua carreira.
“Clubes espanhois e estrangeiros me procuraram, mas quero seguir aqui”, disse ao Diario AS, em janeiro de 2017, três meses antes de sua última renovação contratual.
Tudo começou com a camisa celeste. Vestindo-a, jogou a terceira divisão, passou à segunda, subiu à primeira e alcançou um destaque tal que o levou à representar o país - o único vermelho que lhe tem sido adequado. As mudanças para Liverpool e Sevilla foram infrutíferas na mesma medida em que o retorno a Balaídos foi acertado.
Aspas e Celta vivem um pacto de amor, representação e bom desempenho que é bom para as duas partes e que, ao que tudo indica, durará alguns anos mais. Mas o que está no passado resta eternizado, enquanto o futuro ainda será vivido. Nesse meio tempo, Aspas segue escrevendo sua história, a qual, ultimamente, tem valido a pena acompanhar de perto.
Muito bom o blog. continue
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