10 anos desperdiçados
Há 10 anos, um time brasileiro de
garotos até 17 anos apresentava um contingente enorme de promessas de futuro
brilhante. Campeã do Sul-Americano Sub-17 e Vice-Campeã do Mundial da mesma
categoria – perdendo para um time fortíssimo do México, que contava com figuras
da qualidade de Carlos Vela e Giovani dos Santos – a Seleção Brasileira
apresentava talentos de qualidade rara e que, muito rapidamente, despontaram em
suas equipes. Contudo, uma década depois, quando os futuros craques estariam
com suas carreiras consolidadas, o panorama é outro. Poucos foram bem
sucedidos, ficando a maioria muito abaixo das expectativas.
meio-campo daquela Seleção Sub-17 de 2005 teria certeza do brilhantismo do
futuro que os aguardava. Denílson, o capitão, representava as cores do Arsenal;
Anderson, eleito o craque do Mundial, chegava ao poderoso Manchester United;
Celsinho e Ramón atuavam no futebol russo, em Lokomotiv Moscou e CSKA,
respectivamente.
reservas da equipe, que contava com ninguém menos do que Renato Augusto (foto), que,
em 2008, se mudaria para o futebol alemão – isso sem falar em Kerlon (o
“foquinha”), que, lesionado, não atuou no mundial mas foi o artilheiro do
título Sul-Americano e em 2008 já representava as cores da Internazionale de
Milão – fica clara a certeza do sucesso da geração. Tínhamos uma riqueza imensa
de talentos, os quais deveriam ser peças para o futuro da Seleção Brasileira
principal, certo?
meio-campistas todos, os únicos que chegaram a vestir a camisa Canarinha
principal foram Anderson e Renato Augusto e, ainda assim, poucas vezes. O
ex-meia do Grêmio, que passou quase oito anos no Manchester United, não é
chamado desde 2008, enquanto Renato não veste a Amarelinha desde 2011.
único que conseguiu uma carreira sólida. Tendo atuado em mais de 150 jogos pelo
Arsenal, o volante retornou em 2011 ao São Paulo, seu clube originário, onde é
titular. Entretanto, o jogador não evoluiu o quantum esperado e suas chances de convocação são muito pequenas – no ano
passado, chegou a ver seu companheiro de contenção, o volante Souza, ser
chamado.
do desperdício absoluto de três jogadores que demonstravam enorme talento:
Ramón, Kerlon e Celsinho. O primeiro, cria do Atlético Mineiro, demonstrava
incrível inteligência e habilidade. Dono de raciocínio rapidíssimo, com 16 anos
estreou pelo profissional do Galo e em pouco tempo estava no futebol russo,
onde fez barulho em seu início – mas só no início. Há uma frase proferida pelo
presidente do CSKA que relata com perfeição o que se tornou a carreira do
prodígio:
mas as pessoas como ele acabam tomando cerveja no balcão de um bar, comentando
as glórias do passado.” O detalhe? O brasileiro tinha 22 anos quando a
frase foi proferida e, desde sua saída, sua carreira só decaiu, com o jogador
rodando por uma infinidade de clubes, sem sucesso. Seu porto atual é o Araxá.
ainda piores, futebolisticamente falando. O primeiro, nunca conseguiu se firmar
no Cruzeiro, muito em decorrência de muitas e graves lesões. Entretanto, ainda
assim, conseguiu uma transferência para o futebol italiano, onde só conseguiu
uma enorme quantidade de empréstimos, todos infrutíferos. Hoje, está sem clube,
depois de atuar na terceira divisão do Futebol Japonês e ser rejeitado por um
clube da NASL (uma espécie de segunda divisão do Futebol Norte-Americano).
conseguiu atuar mais vezes no futebol europeu, todavia, igualmente, sem
sucesso. Com passagens pelo futebol russo, português e romeno, não se deu bem
em seu retorno à Portuguesa, clube que o criou, e hoje está no Londrina, onde é
destaque. Não obstante, sua carreira é enormemente inferior ao que foi possível
projetar em 2005.
que o único que correspondeu às expectativas foi o lateral esquerdo Marcelo (foto),
que há anos desempenha carreira sólida no Real Madrid. Dentre os demais,
destacam-se ainda o zagueiro Sidnei, que apesar de não se firmar em clube algum
(tem seus direitos ligados ao Benfica, que, constantemente, o empresta),
efetivamente joga e, atualmente, está no Deportivo La Coruña e o volante
Maurício, desde 2010 no Terek Grozny, da Rússia.
Leyrielton, Bruno Mezenga ou o zagueiro Samuel, caiu no absoluto ostracismo.
Terá sido por falta de qualidade técnica que a maioria dos talentos
dessa geração não vingaram? Não. Falta de planejamento de carreira e auxílio
(muitas vezes psicológico) soam como uma explicação muito mais adequada. Imagine as cifras que estes jogadores recebem em uma idade tão tenra e o impacto que isso tem em suas vidas – na grande maioria das vezes, levadas em ambientes impróprios ao adequado desenvolvimento dos garotos.
10 anos
depois, fica a reflexão. No Brasil, há muito talento, mas o mesmo precisa ser
devidamente trabalhado (o que implica investimento), para que, quando de seu aguardado auge, não esteja, há
muito, na lata de lixo.
Muito bom! Adoro saber que fim levaram as promessas de outrora.