Seleções de que Gostamos: Inglaterra 1966
Após relatar um pouco da memória da Seleção Holandesa de 1974, para muitos a equipe que jogou o melhor futebol de todos os tempos, falo
do time inglês campeão mundial de 1966 e de seu futebol eficiente.
Em pé: Stiles, Hunt, Banks, Jack Charlton, Cohen, Wilson; Agachados: Peters, Hurst, Bobby Moore, Ball e Bobby Charlton |
Período: 1966
Time base: Banks; Cohen, Charlton, Moore, Wilson; Ball,
Stiles, Bobby Charlton, Peters; Hurst e Hunt (Greaves). Téc.: Alf Ramsey
Contando com uma geração de bons jogadores e com três
atletas completamente “fora da curva”, tamanha sua qualidade, os Three Lions conquistaram a Copa do
Mundo, não sem uma pitada de controvérsia.
O caminho para a vitória
País sede, a Inglaterra não precisou disputar as
Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1966. Dos assentos do Estádio de Wembley
acompanhou grande parte dos países do mundo se digladiar por uma das 16 vagas
para a competição.
Quando, enfim, chegou a hora da verdade, o English Team se viu alocado no Grupo 1,
ao lado de Uruguai, México e França. Não obstante, a história do maior êxito
futebolístico inglês começa, de fato, a ser contada em 1963, com a contratação
de Alf Ramsey, ou Sir Alf Ramsey, como
passaria a ser conhecido. Membro da fracassada empreitada inglesa em 1950, como
atleta, o comandante conseguiu aplicar suas idéias e ideais como nenhum outro
havia conseguido até então. The General
sabia o que era fracassar – havia estado presente na derrocada perante os
jogadores amadores dos EUA, em 1950, no Estádio Independência, em Belo
Horizonte – e não permitiria novo revés.
Da rígida disciplina imposta emergiu um time extremamente
competitivo. Nascia ali o 4-4-2. Os ingleses davam até logo aos pontas e
saudavam as duplas de atacantes. Para vencer, mais que talento, era importante propósito e meios para tanto. A tática nova pegou estrategistas estrangeiros
despreparados. Acostumados a se depararem com apenas um atacante de referência,
zagueiros tiveram que se reinventar; criados para lidar com incisivos pontas,
laterais se perdiam sem saber a melhor forma de proceder. É claro, o jogo não era o mais vistoso, abusava dos lançamentos longos e sofreu um
sem número de críticas.
É bom que se diga que Ramsey tentou o 4-3-3, com a presença
do talentoso Jimmy Greaves pela ponta esquerda, mas este sofreu lesão contra a
França e se tornou ausência. A experiência mostrou que o maior êxito viria no
4-4-2. Foi durante a Copa que o treinador idealizou seu melhor time. A defesa
foi a mesma durante todo o torneio, mas o setor ofensivo variou muito até a
segunda fase.
E é claro: havia talento capaz de desequilibrar. No gol,
Gordon Banks desfilava a destreza de um felino, na zaga Bobby Moore mostrava rara qualidade para ler o jogo e do meio para frente Bobby
Charlton era todo técnica e talento.
Como esperado, a Inglaterra teve dificuldades contra os uruguaios, que no
início da década haviam visto o Peñarol conquistar o Intercontinental, batendo
o poderoso Benfica de Eusébio, e, mais tarde, ainda em 1966, acompanhariam os
aurinegros baterem o Real Madrid e conquistarem o bi. Na estreia do English Team, o zero não saiu do placar. A seguir vieram
vitórias contra México e França, que asseguraram a liderança no grupo e o
avanço à fase seguinte.
Entre a polêmica e os louros
Nas quartas de finais da Copa do Mundo, a Inglaterra teve pela frente a Argentina, equipe que apostava grande parte de suas fichas no atacante Luis Artime, grande artilheiro da Albiceleste. Ao final, o bom time sul-americano se perdeu e imperou a violência; a derrota para os ingleses foi inevitável. A seguir, nas semifinais, veio aquele que para muitos foi o grande desafio do English Team: Portugal, do gênio Eusébio, artilheiro da competição. Apesar disso, quem mais se destacou na partida foi o mais brilhante dos ingleses: Bobby Charlton, que viria a ser eleito o melhor jogador da competição e marcou duas vezes, liderando os anfitriões à final.
Veio a final e os Three Lions enfrentaram uma das seleções que já recebido a glória de levantar a Taça Jules Rimet, sendo então lembrada por ter apagado a estrela da fantástica equipe húngara de 1954: a Alemanha, que alinhava em seu meio-campo um certo Franz Beckenbauer. Como esperado o jogo foi duro: 2x2 no tempo normal, com os alemães empatando no apagar das luzes e boa participação do forte centroavante bretão Geoff Hurst.
O clímax da partida, no entanto, foi aos 10 minutos da prorrogação. Da direita, Alan Ball cruzou e seu lançamento chegou a Hurst, que finalizou. A bola foi ao travessão e... entrou? As imagens confirmaram negativamente, mas o árbitro assinalou gol, 3x2, que pouco após se tornariam 4x2, novamente com Hurst. A explosão de êxtase vista no Wembley refletiu o que se viu no país, a Inglaterra finalmente era campeã.
O vitorioso time
Se a Inglaterra só sofreu gols a partir do minuto 82 da partida semifinal contra Portugal, muito disso pode ser atribuído às grandes performances de Gordon Banks. Arqueiro fantástico, de reflexos apuradíssimos e elasticidade incomum, chegou a ficar 442 minutos sem sofrer gols no Mundial e 721 considerando também as últimas partidas que disputou antes do torneio, recorde absoluto na Seleção Inglesa. Suas excepcionais qualidades voltariam a ser testadas na Copa de 1970, competição em que protagonizou aquela que é tida por muitos como a defesa mais bonita da história do futebol, em cabeceio de ninguém menos que Pelé. Ao todo, representou o English Team 73 vezes.
Pelas laterais havia a presença de dois jogadores taticamente muito eficientes. Do lado direito, George Cohen foi o titular. Atleta histórico do Fulham, única agremiação que defendeu em sua carreira, conquanto não fosse sinônimo de qualidade técnica, era muito rápido e, em uma equipe que prescindiu dos pontas, foi peça importante nos avanços pelo flanco destro e nos cruzamentos para os atacantes. Pela esquerda, jogou o experiente Ray Wilson, então já com 32 anos e figura importante do Everton. Atleta mais apto ao trabalho defensivo, abusava de lançamentos longos na direção do ataque, tendo tido papel importante no funcionamento do esquema tático proposto por Ramsey.
A dupla de zaga foi fundamental para todo o sucesso vivido pelo English Team. Por um lado, Bobby Moore, capitão da Seleção e ídolo do West Ham, era sinônimo de tranquilidade, classe e entendimento do jogo; por outro, Jack Charlton, irmão de Bobby e referência histórica no Leeds United, era grandalhão (1,91m) e peça que fazia com que o jogo aéreo fosse arma decisiva no jogo inglês.
Moore impressionava pela imponente qualidade técnica, com antecipações de rara precisão, desarmes limpíssimos e capacidade para sair jogando - representou a Inglaterra 108 vezes, sendo o quinto atleta que mais o fez. Charlton, a seu tempo, tinha estilo mais viril e chegou à seleção já aos 30 anos. Só representou seu país em 35 ocasiões, seis delas indiscutivelmente inolvidáveis.
Fazendo o trabalho sujo no meio-campo, atuou o baixinho Nobby Stiles, de bela história com a camisa do Manchester United. Conquanto tivesse apenas 1,68m, o volante impressionava pela forma como marcava seus rivais, sempre muito de perto e com imponência física (por vezes excessiva). Se o time alcançou o equilíbrio tão desejado por seu treinador, grande parte dos méritos vai para o trabalho do atleta, que, dentre outras participações excelentes, anulou Eusébio no decisivo jogo contra Portugal. Embora pouco construísse, Stiles destruía como poucos.
Como Ramsey optou por um esquema sem pontas, trazendo peças versáteis para o setor de meio-campo, contou com a presença de dois atletas que, em tese, atuavam pelos flancos, mas partiam para o interior do campo. Pela direita, havia a juventude de Alan Ball, de apenas 21 anos. Dono de invejável capacidade atlética, o então atleta do Blackpool assegurou a titularidade durante a competição, superiorizando-se a John Connelly, Terry Payne e ao garoto Ian Callaghan, então com 18 anos e que viria a se tornar o jogador que mais vezes vestiu a camisa do Liverpool. Jogador habilidoso e criativo, Ball foi fundamental para o título inglês, até mesmo por ter sido o responsável pelo cruzamento que originou o polêmico gol de Hurst na final do certame.
Pelo lado contrário, jogou Martin Peters, atleta de muita movimentação, lembrado pela qualidade que possuía nas finalizações e também apto a desempenhar o jogo pelo flanco ou pelo meio. Versátil, supriu com perfeição as demandas de Ramsey e ainda foi decisivo, marcando um gol na decisão contra a Alemanha. É outro que começou a Copa do Mundo de 1996 na reserva, ganhando espaço com a mudança tática vislumbrada por seu comandante.
Também pelo meio-campo, mas mais livre para desenvolver seu jogo, atuou o craque da esquadra inglesa, Bobby Charlton. Ídolo máximo do Manchester United e sobrevivente do Desastre de Munique, explosão do avião que deveria levar os Red Devils de volta à Inglaterra, após partida em Belgrado, pela UEFA Champions League, em 1958, o jogador era todo talento. Criativo, inteligente, habilidoso e bom finalizador, Charlton compunha bem o esteriótipo do grande camisa 10. Eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 1966, o meia-atacante brilhou especialmente na semifinal contra Portugal, marcando duas vezes. Ao todo, representou seu país em 106 ocasiões, sendo o sétimo da história que mais o fez.
No comando do ataque, uma dupla foi decisiva. Autor de três gols na final, Geoff Hurst escreveu seu nome na história do futebol em 1966. Curiosamente, no início da competição, enquanto o habilidosíssimo Jimmy Greaves ainda desfilava dribles e talento pela ponta esquerda, o jogador era reserva; Roger Hunt, seu parceiro até o final do torneio, o titular. A entrada de Hurst fez com que os ingleses passassem a apostar mais no jogo aéreo, uma de suas especialidades. Ademais, a despeito da mudança de posicionamento e ideia de jogo, Hunt também teve papel importante, pois, igualmente, possuía veia artilheira (é o segundo maior artilheiro da história do Liverpool) e, por ser mais veloz, movimentava-se mais.
Assim, com mudanças durante a competição, em 1966 o time de Sir Alf Ramsey pôde dizer, sem a velha sensação de superioridade inglesa, que o futebol mundial estava a seus pés.
Ficha técnica de alguns jogos importantes nesse período:
Quartas de finais da Copa do Mundo de 1966: Inglaterra 1x0 Argentina
Árbitro: Rudolf Kreitlein
Público 90.000
Gol: ’78 Hurst
(Inglaterra)
Inglaterra: Banks; Cohen, Charlton, Moore, Wilson; Ball,
Stiles, Charlton, Peters; Hurst e Hunt. Téc.: Alf Ramsey
Argentina: Roma;
Ferreiro, Perfumo, Albrecht, Marzolini; Rattín, Solari, González; Onega,
Artime, Más. Téc.: Juan Carlos Lorenzo
Semifinais da Copa do
Mundo de 1966: Inglaterra 2x1 Portugal
Estádio Wembley, Londres
Árbitro: Pierre Schwinte
Público 94.000
Gols: ’30 e ’80 Bobby
Charlton (Inglaterra); ’82 Eusébio (Portugal)
Inglaterra: Banks; Cohen, Charlton, Moore, Wilson; Ball,
Stiles, Charlton, Peters; Hurst e Hunt. Téc.: Alf Ramsey
Portugal: José
Pereira; Festa, Baptista, José Carlos, Hilário; Graça, Coluna; José Augusto,
Eusébio, Torres e Simões.
Final da Copa do
Mundo de 1966: Inglaterra 4x2 Alemanha
Estádio Wembley, Londres
Árbitro: Gottfried Dienst
Público 96.924
Gols: ’18, ‘101, ‘120
Hurst e ’78 Peters (Inglaterra); ’12 Haller e ’90 Weber (Alemanha)
Inglaterra: Banks; Cohen, Charlton, Moore, Wilson; Ball,
Stiles, Charlton, Peters; Hurst e Hunt. Téc.: Alf Ramsey
Alemanha: Tilkowski; Höttges, Schulz, Weber,
Schnellinger; Beckenbauer, Overath; Haller, Seeler, Held, Emmerich. Téc.:
Helmut Schön
Primeiramente parabens pelo texto e riqueza de detalhes.se o terceiro gol da inglaterra tivesse sido legal essa selecao seria mais valorizada eu sempre achei que existe uma certa birra para com ela perante outras que foram campeas.por exemplo eu considero essa inglaterra superior a italia de 2006 que ganhou com a mesma defesa solida e meio campo pegador mas sem bobby charlton hurst e hunt no ataque.
ResponderExcluirNo texto é dito que a Alemanha empata a final no fim do segundo tempo, com Hurst. Depois, que o mesmo jogador fez gol, só que pela Inglaterra na prorrogação. Bom texto, mas poderia ser bem melhor escrito em vários aspectos.
ResponderExcluirNão é dito que Hurst marcou pela Alemanha…
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