Seleções de que Gostamos: Paraguai 1998
Na continuidade da coluna “Seleções de que Gostamos”, recorda-se uma equipe que não ficou marcada por belos gols e encanto, mas pela marcação forte e leal. Falo do Paraguai que viajou à França para a disputa da Copa do Mundo de 1998.
Em pé: Arce, Gamarra, Ayala, Chilavert, Sarabia, Cardozo, Caniza. Agachados: Benítez, Brizuela, Paredes, Enciso. |
Seleção: Paraguai
Período: 1998
Time base: Chilavert; Arce, Ayala, Gamarra, Sarabia, Campos
(Caniza); Paredes, Enciso, Acuña; Benítez e Cardozo. Téc.: Paulo César
Carpegiani
Campeão da Copa do Mundo de 1994, o Brasil não participou das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998. Era previsível a chegada da seleção argentina à primeira colocação, sem quaisquer problemas. Mesmo havendo conflitos, alguns estapafúrdios, entre o treinador Daniel Passarella e parte do elenco, a Albiceleste realmente terminou com a liderança, mas apenas um ponto a separou de uma das equipes que se confirmaria surpresa no Mundial da França: o Paraguai.
Com um setor defensivo brilhante, a Albirroja perdeu somente cinco partidas das 16 que disputou nas qualificatórias — sempre pela margem mínima: 1 a 0 para a Colômbia e Peru; 2 a 1 diante de Chile, Equador e Argentina. Apenas o encontro com os Hermanos aconteceu em terras paraguaias e, além disso, os Guaranis tiveram o recorde de vitórias da disputa: nove.
Foi assim que, treinado pelo brasileiro Paulo César Carpegiani, o Paraguai chegou à França bem cotado, mas em um grupo equilibrado, com Espanha, Nigéria e Bulgária. Favoritos, os espanhóis do craque Raúl González não conseguiram tirar o zero do placar contra a Albirroja. Os fortes e talentosos nigerianos, liderados por Nwankwo Kanu, outro atleta conhecido do brasileiro, perderam por 3 a 1; e os búlgaros encararam o mesmo fim da Fúria. Com uma vitória e dois empates, os sul-americanos terminaram o Grupo D com a vice-liderança e avançaram às oitavas de finais
O duro destino, todavia, colocou os Guaranis frente a frente com os anfitriões franceses, que dispunham de um time talentosíssimo – como o Brasil viria a notar na sequência. Quase intransponível, a defesa paraguaia resistiu à força ofensiva de Thierry Henry, David Trezeguet e Youri Djorkaeff até o minuto 114, já na prorrogação. Ironicamente, o gol da eliminação paraguaia seria marcado por um zagueiro: Laurent Blanc. Ao final do certame, ao lado da algoz e eventualmente campeã França, o Paraguai se confirmou a melhor defesa da competição, com apenas dois gols sofridos.
"Eu tinha uma última substituição a fazer [...] Ele [Gamarra] veio falar comigo: 'Não consigo mais'. Eu precisava fazer uma outra substituição. Tinha o Rivarola no banco. Era fazer a simples troca. E eu disse para ele, me recordo muito bem: 'Gamarra, é minha a responsabilidade. Eu preciso fazer uma outra coisa, senão nós não vamos aguentar isso' [...] é um erro que eu carrego até hoje [...] A jogada foi em cima dele", comentou o Carpegiani, sobre a partida contra a França, em entrevista ao SporTV, anos mais tarde.
Pela lateral direita, o time possuía um de seus melhores
jogadores. Velho conhecido das torcidas de Grêmio e Palmeiras, Francisco Chiqui Arce foi um dos melhores de seu tempo. Equilibrado, ia bem à frente e era seguro atrás, possuindo
ainda um grande diferencial: a capacidade para bater na bola, com passes perfeitamente arqueados, que consagraram vários centroavantes. Seus
venenosos cruzamentos, lançamentos e cobranças de faltas o tornaram um jogador
fundamental à equipe. Com a camisa da Albirroja,
disputou 61 jogos e marcou seis gols.
O brasileiro o conheceu muito bem, uma vez que o beque atuou por Internacional, Corinthians, Flamengo e Palmeiras. Pela Albirroja, jogou 110 jogos e balançou as redes 12 vezes, afirmando-se o quarto atleta que mais vezes defendeu seu país. No Mundial de 1998, conseguiu passar quatro partidas completas sem cometer uma falta sequer.
Um de seus habituais companheiros era Celso Ayala, defensor que teve passagem
ruim pelo São Paulo, mas marcou seu nome na história do River Plate. Como Gamarra, não se impunha tanto pela estatura (1,83m), tendo estilo de jogo semelhante ao de seu companheiro, embora menos refinado.
Defendeu o Paraguai em 85 ocasiões, anotando seis tentos. Ainda pelo setor,
outra opção era Pedro Sarabia. Conquanto não tenha
obtido o destaque de seus companheiros, fez longa e vitoriosa carreira, marcado por um perfil sério e determinado, destacando-se em River
Plate, Cerro Porteño e Libertad. Por fim, Carpegiani podia contar também com os préstimos de Rivarola, então no Grêmio.
Originalmente, Campos era meia esquerda. Em razão disso, confirmou-se opção pela ala, no esquema com três zagueiros. Fez
47 partidas pelo selecionado, mas não ganhou notoriedade além-continente.
Caniza era de fato um lateral, lembrado pelo esforço e a liderança. Anos mais tarde, herdaria a braçadeira de capitão da Albirroja, alcançando 101 jogos e marcando seu nome na história como o atleta que mais representou sua
nação em mundiais, entrando em campo em quatro edições.
À frente, o meio-campo tinha, habitualmente, três jogadores. Ex-atleta do Internacional, Julio César Enciso era uma deles. Volante versátil, atuava pelo lado direito, oferecendo qualidade na saída de bola. Ainda que
não fosse exímio marcador, era importante ao escrete guarani. É outro jogador que fez bonito
por seu país, integrando também o time que ganhou medalha de prata nas Olimpíadas de
2004.
Ainda na contenção, jogou Carlos Paredes, conhecido como El Señor de la Mediacancha.
Marcador forte, com apurado senso tático e personalidade imponente, era uma das
peças mais importantes do esquadrão paraguaio. Grande ídolo do Olimpia, era dos mais jovens entre os atletas paraguaio. Disputou
um total de 76 jogos pelo Paraguai, marcando 10 gols.
Completando o meio-campo, com a camisa 10, atuou Roberto Acuña. Jogador de estilo aguerrido e bom passe, El Toro era a principal referência do setor. Argentino de nascimento, atuou durante quase 20 anos pela seleção paraguaia, alcançando 100 jogos e marcando cinco tentos. Atuou até os 45 anos e, após, passou a jogar Beach Soccer.
Completando o meio-campo, com a camisa 10, atuou Roberto Acuña. Jogador de estilo aguerrido e bom passe, El Toro era a principal referência do setor. Argentino de nascimento, atuou durante quase 20 anos pela seleção paraguaia, alcançando 100 jogos e marcando cinco tentos. Atuou até os 45 anos e, após, passou a jogar Beach Soccer.
No ataque, com a tarefa de marcar gols, havia duas figuras de
diferentes estilos e que se completavam. De um lado, o baixinho e veloz
Miguel Ángel Benítez, atacante muito mais afeito à preparação de jogadas do que
propriamente à conclusão; do outro, o goleador José Cardozo, um dos
maiores artilheiros da história do Paraguai. O primeiro não atuou tantas vezes
pela Seleção, com 29 partidas e 11 gols marcados. Já o segundo envergou o manto
Albirrojo em 84 jogos, marcando 25
gols.
Contestado no Brasil, Paulo César Carpegiani foi o técnico responsável
pela montagem do ferrolho defensivo que caracterizou a equipe paraguaia. Além
dos seus habituais titulares, havia outros atletas interessantes como opções
para o treinador, casos, por exemplo, dos atacantes Julio Cesar Yegros e Hugo Brizuela.
Se esbarrava na falta de talento puro e de jogadores habilidosos, a seleção paraguaia de
1998 deu uma das maiores lições de que qualidade defensiva, organização tática
e dedicação podem levar um time à frente.
Ficha técnica de alguns jogos importantes nesse período:
Primeira fase da Copa
do Mundo de 1998: Espanha 0x0 Paraguai
Árbitro: Ian McLeod
Público 30.600
Espanha:
Zubizarreta; Aguilera, Abelardo (Celades), Alkorta, Sergi; Etxeberría, Hierro,
Amor, Luis Enrique; Juan Antonio Pizzi (Morientes) e Raúl (Kiko). Téc.: Javier
Clemente
Paraguai: Chilavert;
Arce, Gamarra, Ayala (Yegros), Sarabia, Caniza; Enciso, Acuña, Campos (Paredes);
Benítez e Rojas (Ramírez). Téc.: Paulo César Carpegiani
Primeira fase da Copa
do Mundo de 1998: Nigéria 1x3 Paraguai
Estádio de Toulouse, Toulouse
Árbitro: Pirom Un-prasert
Público 33.500
Gols: ‘1 Ayala, ’58
Benítez e ’86 Cardozo (Paraguai); ’10 Oruma (Nigéria)
Nigéria: Rufai;
Okafor, West, Eguavoen, Iroha; Oliseh (Okpara), Oruma (Finidi), Lawal, Babangida;
Yekini e Kanu. Téc.: Bora Milutinovic
Paraguai: Chilavert;
Arce, Gamarra, Ayala, Sarabia, Caniza (Yegros); Enciso, Paredes; Brizuela
(Rojas), Benítez (Acuña) e Cardozo. Téc.: Paulo César Carpegiani
Oitavas de finais da
Copa do Mundo de 1998: França 1x0 Paraguai
Estádio Félix-Bollaert, Lens
Público 31.800
Gol: ‘114 Blanc
(França)
França: Barthez;
Thuram, Blanc, Desailly, Lizarazu; Deschamps, Petit (Boghossian); Diomède
(Guivarc’h), Trezeguet, Henry (Pirès), Djorkaeff. Téc.: Aimé Jacquet
Paraguai: Chilavert;
Arce, Gamarra, Ayala, Sarabia, Campos (Yegros); Enciso, Paredes (Caniza),
Acuña; Benítez, Cardozo (Rojas). Téc.: Paulo César Carpegiani
* O texto foi atualizado em 3 de fevereiro de 2022, para adicionar a declaração de Carpegiani
Muito bom texto. Essa Seleção ficou na história, até hj torço pelo Paraguai por causa de 1998. Espero que o Paraguai volte a fazer frente. Obrigado pelo texto. Abraços
ResponderExcluirÓtima redação. Lembro que era criança e passei a gostar do Paraguai por causa dessa seleção.
ResponderExcluirObrigado, amigo!
ExcluirCarlos Gamarra foi uma das maiores lendas do futebol. Não digo que foi o maior zagueiros que vi jogar, porque vi também Franco Baresi e Ronald Koeman e eu não saberia entre esses quem realmente foi melhor zagueiro
ResponderExcluirPela ordem: Baresi -Gamarra- Koeman.
ExcluirMas o melhor de todos os tempos Franz beckembauer
Pela ordem Baresi- gamarra- Koeman (foi bom zagueiro,só isto- no Brasil tem vários que foram melhor do que ele: Aldair, Mauro Galvão , os dois Ricardos, Mozer, Oscar.
ExcluirMas o melhor de todos é Franz beckembauer.
Mas não posso esquecer de Luis pereira ( um monstro)
,kroll o melhor Holandês
Só essa de Gamarra ser considerado um dos maiores zagueiros da história do futebol é muita viajem. Foi um grade zagueiro, agora menos, bem menos
ResponderExcluirEu era criança nessa época, mas lembro que tinha o maldito Golden Goal. Deu dó vendo o choro dos paraguaios após o apito final
ResponderExcluirDesde a Copa de 1998 eu tenho o Paraguai como segunda seleção sul-americana. Time macho esse de 1998!
ResponderExcluirEssa linha de defesa do Paraguai eu nunca vi outra tão eficiente, com o Gamarra jogando 4 partidas e mais uma prorrogação sem fazer uma falta sequer.
Gamarra e o chileno Figueroa (ex-Inter), os melhores zagueiros sul-americanos de todos os tempos. Aliás, o Figueroa foi ganhou o título de Melhor Jogador do Continente por 3 vezes. E nessa ele tinha como concorrentes: Zico, Rivelino, Falcão... Só isso!!! Querem mais?
Lembrando que figueroa foi o melhor zagueiro central da historia da america e ao lado dele passarella na quarta zaga.gamarra domingos da guia nazassi e outros vem depois.falando do paraguai esse time era bom nos penais e na defesa se elimina a franca poderia ter chegado entre os quatro.
ResponderExcluirExcelente matéria!!!!!! Parabéns.
ResponderExcluirparabens pelo texto. muito triste o paraguai ter sido eliminado dessa maneira. assim como em 2010, a eliminacao tambem foi traumatica.
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